Veias Malditas: Capítulo 2

II - Sangue na neve

O rastro de sangue na fina camada de neve não terminava longe. As manchas rubras iam quase até as marcas de rodas e de pegadas, que se confundiam, indicando movimento. Tratavam-se de carruagens.

O homem agachou, tocando a mancha de sangue que terminava pouco antes de encontrar as pegadas. O sangue estava fresco.

— E então? — indagou a jovem atrás do homem, que agora levava as pontas dos dedos para perto do nariz, farejando.

Pouco atrás da jovem de olhos e cabelos olhos escuros, havia um homem de cabelos castanhos. Era facilmente mais alto que a mulher e mais baixo que o primeiro. Os olhos cor-de-mel fitavam o homem da frente, que agora se levantava.

— Esse sangue é dele, Sigmund. — disse o mais alto, com sua voz grave e naturalmente imponente, após se virar para fitar a irmã e o homem.

Homem que levou as mãos ao rosto, desesperado, e pôs-se a chorar. Afinal, o sangue encontrado pertencia a seu filho único, de oito anos de idade.

A jovem pôs a mão no ombro de Sigmund e apertou, com uma expressão de compaixão mesclada com raiva. Voltou o olhar para o irmão.

— O que vamos fazer, Juan? — disse ela, tão determinada em resolver a situação que sequer perguntou quem poderia ter feito aquilo.

Talvez não fosse preciso perguntar.

O homem mais alto, Juan Carlos, virou-se novamente, primeiro acompanhando a extensão das marcas no chão branco. Não precisava ir muito longe para saber que os rastros levavam ao norte do continente. Pensando nisso, levantou o olhar, vislumbrando ao longe a floresta e o aparentemente estreito caminho entre as árvores. Seu olhar parecia ir além da floresta e da montanha que ela guardava.

Para ele, ou melhor, para todos de sua raça, o que havia acontecido era óbvio. Aquilo deixou raiva evidente em sua expressão e em seu olhar.

— Foram os vampiros, não foram? — Sigmund baixou as mãos, levemente trêmulo. Seu filho era seu bem mais precioso... Como estaria o menino, agora? Estaria vivo?

— Quê? Aqueles sanguessugas nojentos não podem passar por aqui sem que a gente perceba! — disse a jovem. Embora fosse feminina, o corpo era moldado pelo o estilo de vida que levava; era uma guerreira feroz.

— Quem mais teria levado meu menino? — disse Sigmund, indignado, olhando para Dulce María enquanto abria os braços. — Por Deus, o que devem estar fazendo com ele...?

— Dulce está certa. — disse Juan, virando-se para fitar o homem, que agora estava confuso.

Dulce cruzou os braços, primeiro olhando para Sigmund com um olhar que queria dizer "eu sempre estou certa" e depois olhando para o irmão, cujos cabelos tocavam a barba, emoldurando o rosto sutilmente bronzeado de traços fortes e semblante rígido.

— Teríamos notado se eles tivessem passado por aqui. — continuou Juan, olhando de Sigmund para Dulce. — Somos capazes disso, Sigmund.

— Mas então... Quem levou Wolfgang? — havia confusão, raiva e tristeza mesclados no olhar do homem.

— Não foram vampiros​, meu amigo — começou o mais alto, tocando o ombro de Sigmund. Embora costumasse ser ríspido e direto, daquela vez, tratava-se de um amigo que havia perdido, agora, mais um membro da família. E família era a coisa mais importante que existia. — Mas alguém fez isso por eles, e eu vou descobrir quem foi.

Dulce o encarou, ainda enraivecida. Não era por menos.

— Você​ não vai fazer isso sozinho. — disse ela, determinada.

— Vou investigar sozinho. — respondeu Juan, agora indo em direção a vila de casas ao longe, à esquerda.

Sigmund e uma frustrada Dulce o seguiram.

— Não vai, não! — disse a jovem com ferocidade, apressando os passos para passar o irmão e então parar de frente para ele, obrigando-o a cessar a caminhada.

Juan Carlos respirou fundo, e em seguida cruzou os braços.

— Minha irmã... Não quero que você corra mais perigo do que já corre. — os olhos escuros fitavam os de Dulce com uma severidade já conhecida, e por ser conhecida, às vezes não era o bastante para fazer a jovem temperamental desistir de uma ideia.

— Foda-se, Juan! Não vou te deixar sozinho naquele ninho de cobras!

— Dulce tem razão... — quem falou foi Sigmund, que havia parado ao lado de Juan. — A união da raça de vocês têm dado certo... Agora não pode ser diferente. Vocês são uma família. Acho que devem permanecer juntos.

Juan fez um som baixo de frustração, algo como um rosnado. Estava contrariado, mas Sigmund, seu amigo humano tinha alguma razão — assim como Dulce. Seu medo era perder a única família que tinha, e sabia que a jovem também era temerosa quanto àquilo. A diferença era que, enquanto Juan desejava manter a irmã longe de suas lutas, Dulce desejava acompanhá-lo. Mas para Juan, ela era e sempre seria sua doce irmã mais nova.

Doce na medida do possível.

— Sigmund — disse o mais alto, virando-se para o humano. — Reúna os lupinos em sua casa em até meia hora. Terei uma conversa com Dulce, e depois encontrarei o grupo para uma reunião.

O homem, Sigmund assentiu sem questionar, enquanto Dulce apenas assistia, intrigada, porém, não mais contrariada.

— Seja forte, meu amigo — disse Juan, antes de Sigmund se retirar para a vila.

O humano assentiu mais uma vez, em silêncio, e então se afastou, deixando o casal de irmãos à sós na estrada que começava no sul.

— Qual é o seu argumento? — desafiou Dulce, cruzando os braços enquanto fitava o irmão.

— Sou dez anos mais velho — respondeu ele. Ignorando o revirar de olhos de Dulce e o palavrão dito por ela, prosseguiu: — Tenho mais experiência com investigação, e você sabe que sei me virar.

— E daí? Duas cabeças pensam melhor que uma! Qual é o problema? Não confia em mim?!

— Confio. Você é uma grande guerreira.

— Então, porra!

— Você vai ficar. — Juan descruzou os braços, sério. Não gostava de discutir com a irmã, que era uma das poucas pessoas que o faziam tirar paciência de onde não​ tinha.

— NÃO! Que merda, Juan! Por que isso?! — Dulce abriu os braços, irritada.

— Porque essas pessoas vão precisar de alguém forte o bastante para protegê-las.

Foi a vez de Dulce respirar fundo e ficar contrariada. Emburrada, voltou a cruzar os braços, agora batendo com a ponta do pé no chão algumas vezes.

— Você e Miguel farão um ótimo trabalho. — Juan pôs a mão sobre o ombro da irmã, olhando-a nos olhos.

— Ainda não quero que você vá sozinho. — respondeu ela, preocupada e irritada.

— Não irei. — disse ele, abrindo os braços. — Vem cá.

Dulce descruzou os braços e aproximou-se do irmão, que não tardou a abraçá-la e a dar um beijo em sua testa.

— Vamos à casa de Sigmund. — disse o homem, agora soltando Dulce e começando a caminhar para a vila. — Precisarei de um grupo para me acompanhar.

— Você vai voltar pra , Juan? — Dulce caminhava ao lado do irmão, ainda tensa, mas não era a única a estar daquele jeito.

Eles sabiam que o Reino da Escuridão era um território hostil para feras rebeldes. Havia muitos lupinos escravos, mas os vampiros — a palavra fazia o sangue de Juan ferver — queriam que todos os lupinos se submetessem à ordem deles. E os lupinos que deixaram o reino jamais seriam bem vistos pelos vampiros.

Não que quisessem ser bem vistos.

— Preciso saber o que aconteceu com o garoto. — respondeu ele, agora sem olhar para a irmã.

— Se ainda estiver vivo.

— Se ainda estiver vivo. — concordou, enraivecido. — Mas talvez esteja. Os sanguessugas gostam de estudar as vítimas... Maximiliard...

Os irmãos cerraram os punhos. Aquele era um nome que despertava ódio em todos os lupinos rebeldes, principalmente em Juan e Dulce. Maximiliard fora o responsável pelos experimentos com seus pais, Ramon e Malva, e consequentemente responsável pela morte dos dois, deixando Juan e a pequena Dulce à mercê dos clãs.

Se Maximiliard ainda estivesse vivo, Wolfgang também poderia estar.

— Preciso encontrar o garoto o mais rápido possível. — foi tudo o que Juan disse até chegar à casa de Sigmund.

Uma vez no lar de seu amigo, Juan se afastou para os fundos, a fim de ficar um tempo só para refletir.

Havia uma semana que estava ali, na Cidade dos Independentes. Chegara de viagem com seu grupo, ou melhor, tripulação. A Grande Cidade era seu lar desde a fuga do Reino da Escuridão, quando tinha onze anos de idade. Por sorte, o Reino Azul — logo abaixo do Reino da Escuridão — dava maior liberdade aos lupinos vizinhos​, de modo que a jovem rainha permitiu a passagem de grupos e mais grupos pelo território azul para a Grande Cidade, que por sua vez ficava entre tal reino e o Reino do Ouro.

Juan era grato ao tenebrus que guiou seu grupo ao sul. Poucos nativos da Escuridão, os tenebrus, não concordavam com o triunvirato, tampouco com os vampiros per se no poder. Um dos que não estavam satisfeitos ajudou o ainda menino Juan Carlos a fugir do castelo com a pequena irmã de um ano de idade, levando as crianças até o ponto em que muitos lupinos rebeldes se encontravam. De lá, o tenebrus guiou o grande grupo formado para o Reino Azul, e desde que cruzou a fronteira, Juan não teve mais notícias do homem. Teria ele sido morto ou ido embora pelo mar? Fosse como fosse, o tenebrus merecia ser lembrado. Foi quem despertou em Juan Carlos o desejo de explorar o mundo pelos mares, sendo, até então, o único tenebrus pirata.

Mas o homem não pôde se perder em seus pensamentos por muito tempo, daquela vez, pois logo seu amigo humano aparecia na varanda, avisando que estavam todos na sala. 

Juan se virou, acompanhando um entristecido Sigmund para dentro da grande casa, cuja sala mobiliada de maneira simples agora parecia pequena pela quantidade de homens lupinos presentes.

Mas não apenas homens.

Sentada sozinha em um sofá, estava uma bela mulher. Os longos e cheios cabelos ruivos estavam em harmonia com o rosto de traços exóticos mas ao mesmo tempo delicados, que por sua vez combinavam com a pele bronzeada. De pé atrás do sofá, havia um grupo de dez jovens mulheres, todas belas e com o mesmo tipo físico de Dulce María, embora a beleza da mulher de cabelos ruivos ofuscasse a de todas as outras.

Ao menos era o que a maioria dos lupinos pensava.

Havia dois homens negros em outro sofá e um rapaz sentado no braço do mesmo sofá. Atrás do móvel, sete homens, todos altos — não como Juan — e parrudos.

No terceiro sofá da sala, Sigmund acabava de se sentar entre um rapaz de cabelos castanhos mais claros e um homem de idade, cujos cabelos completamente grisalhos eram longos e estavam presos em um rabo de cavalo. A expressão do mais velho era rígida, como se estivesse sempre de mau humor. Dulce estava sentada no braço do sofá ao lado do rapaz, próxima de um outro homem, careca e de semblante reflexivo.

Atrás daquele sofá, encostados na parede, estavam três homens. Dois eram mal encarados, enquanto o do meio, de braços cruzados, estava inexpressivo. O olhar recaiu sobre Juan Carlos assim que ele surgiu na sala.

— Como todos devem estar sabendo — começou o mais alto. — Wolfgang foi sequestrado.

Sigmund baixou a cabeça.

— Por quem? — disse o rapaz ao lado de Sigmund.

— Não sei, Hans. — respondeu Juan, aproximando-se do grupo. — Não vi o que aconteceu, e suponho que nenhum de nós tenha visto.

— Mas isso é impossível — disse o homem antes inexpressivo, agora com uma expressão de desdém, que também estava evidente em seu tom. Os olhos azuis fitavam Juan. — Quando aconteceu?

— Há pouco mais de uma hora. — quem respondeu foi Sigmund, com as mãos juntas entre as pernas. — Wolfgang saiu para brincar, mas se esqueceu do cachecol... Quando fui procurá-lo para levar o cachecol, tudo o que vi foi um rastro de sangue que leva à estrada...

— Ouvi cavalos e carruagens — disse um dos homens mal encarados encostados na parede, chamando a atenção de todos. — Mais ou menos nesse mesmo tempo, mas não ouvi gritos nem pedidos de socorro.

— Por que não foi verificar? — perguntou a mulher ruiva, com o olhar desafiador.

— Não achei que fosse importante. — respondeu ele, no mesmo tom que a mulher.

— É comum carruagens passarem por aqui, Larentia — disse o do meio, pronunciando o nome dela com uma provocativa ênfase.

— Kristof tá certo. — disse um dos homens negros que estavam sentados em um dos sofás. Todos olharam para ele com espanto. Kevin não costumava se dar bem com Kristof. — Sem brincadeira. Todo mundo sabe que ele fala merda na maioria das vezes, mas agora tenho que concordar.

Alguns teriam rido se a situação não fosse preocupante, mas Kristof apenas sorriu. Era um sorriso perigoso.

— Carruagens do Ouro sempre passam por aqui rumo ao Reino Azul. — continuou Kristof, desencostando-se da parede. — É normal que façam isso nessa época, já que a Rainha Azul comemora o início de cada estação.

— Por que alguém do Reino do Ouro levaria o menino? — a pergunta partiu de Miguel, o careca ao lado de Dulce. Estava pensativo.

— Porque ele é mestiço. — Juan Carlos voltou a falar, novamente atraindo a atenção de todos. — Alguém descobriu isso e decidiu levar o garoto.

— Não faz sentido. — disse Kristof.

— Faz sentido se parar para pensar que há alguns anos mataram mestiços no Reino do Ouro. — falou Larentia, reflexiva. Sigmund cobriu o rosto com as mãos. — Extinguiram filhos de lupinos com humanos.

— O problema é que o rastro termina na estrada que leva ao norte. — observou Juan, deixando todos ainda mais tensos.

Ninguém ali precisava ler pensamentos para saber o que Juan Carlos estava querendo dizer.

Larentia o fitou, cruzando as pernas. Empinou o queixo e falou:

— Então, alguém de algum reino ao sul passou por aqui, levou a criança e seguiu para o norte. Precisamos investigar na vizinhança para saber se alguém viu ou ouviu algo suspeito, e no Reino Azul, para saber se as tais carruagens passaram por lá.

— Mas é claro que passaram por lá — disse Dulce, impaciente. Juan e Larentia a olharam. — Com certeza estão levando o garoto pr'aquele lugar nojento!

— Precisamos confirmar. — rebateu Larentia, levantando-se e mostrando-se mais alta que as outras mulheres presentes. Apesar de também ser uma guerreira, o corpo possuía mais curvas que os das outras. Era visivelmente mais forte que suas guerreiras. — Pai?

Todos, exceto Juan e Kristof olharam para o senhor de idade que estava calado ao lado de Sigmund.

— Que Deus os abençoe. — disse o senhor, rouco, sem se levantar. — Mas se morrerem por lá, vão ficar por lá mesmo!

— Não seja tão rabugento. — reclamou a mulher dos longos cabelos ruivos. — Quem o senhor designa para ir?

— Eu irei, independente de quem o senhor escolher. — avisou Juan Carlos, cruzando os braços. Não deu brecha para questionamentos.

O senhor, Vincenzo, apenas assentiu.

Kristof fitou o teto com uma expressão entediada.

— Larentia e Kristof. — anunciou Vincenzo.

— Ah, que ótimo. — ironizou Kristof.

— Vou torcer para você cair por lá, seu garoto chato de uma figa — resmungou o senhor.

— Prossiga, pai. — disse Larentia, antes que Kristof rebatesse.

— Kevin, Kurt, Arya, Brenna — continuou Vincenzo, apontando para cada pessoa citada. Kurt era o negro ao lado de Kevin. Arya e Brenna eram, respectivamente, uma jovem de cabelos curtos e uma jovem de cabelos arrepiados que estavam atrás do sofá de Larentia. — War e Wrath, aqueles dois paspalhos puxa-sacos do Kristof.

Kristof saiu de perto da parede, agora satisfeito. Os dois homens o acompanharam.

— Obrigado, pai — disse, sarcástico, enquanto caminhava para fora da casa com os dois grandalhões.

— Juan Carlos levará mais alguém? — questionou Larentia enquanto Vincenzo xingava o homem que acabara de sair.

— Não. — respondeu Juan, direto, e olhou para a irmã e o amigo. — Vocês ficarão na liderança enquanto eu estiver ausente. Todos os outros obedecerão a vocês. — continuou, novamente falando sem dar chance de ser questionado.

Aquele era Juan, o homem — ou lupino — que não tinha dificuldade de se impor.

— Guerreiras, vocês farão a segurança da vila. — foi a vez de Larentia falar, agora para as jovens que a acompanhavam. — Vincenzo ainda é a autoridade máxima, mas Dulce e Miguel também estarão no comando. Valentina — o olhar de Larentia recaiu sobre uma jovem parda de cabelos negros e lisos. — Proteja sua família. Só isso.

Valentina assentiu. Ficara calada durante toda a conversa, mas aquilo tinha um motivo: de todas as jovens do grupo de Larentia, ela era a mais ácida e problema era seu sobrenome. Quando falava perto de Dulce María, as duas terminavam transformadas, trocando mordidas e arranhões, arrancando pelos e pele uma da outra. Naquele fim de tarde, o humor de Valentina estava pior do que de costume, já que seu sobrinho havia desaparecido e provavelmente seria entregue para vampiros.

Todos ali possuíam problemas com os líderes da Escuridão.

— Muito bom. — comentou o senhor, sempre daquela maneira ríspida. Apontou para Juan e para Larentia. — Vou organizar o casamento assim que vocês voltarem.

Alguns riram baixo. Miguel colocou a mão sobre a boca para não rir, pelo menos não perto de Dulce, que deu um rosnado baixo. Algumas guerreiras sorriam enquanto outras baixavam o olhar. Larentia, por sua vez, apenas fitou o pai, semicerrando os olhos. Porém, quando buscou Juan Carlos com o olhar, ele já estava saindo da casa.

— Larentia... — disse Sigmund, distante do assunto. O olhar estava perdido. — Por favor, encontre meu filho... Eu já perdi minha esposa, não quero perdê-lo também...

A mulher o encarou. Em silêncio, assentiu.

Dulce se levantou, e seguiu para fora da casa, na intenção de procurar pelo irmão. Miguel a acompanhou.

Quando saíram, a noite já estava caindo. Juan estava parado alguns metros à frente da casa, com o olhar perdido em algum ponto do norte.

— Vai sair sem se despedir de mim? — disse Dulce, parando ao lado de Juan. Miguel parou do outro lado, mais calmo que a jovem.

— É claro que não. — respondeu Juan.

— Também não vai sair sem proteção, certo? — quem falou foi Miguel, atraindo a atenção do mais alto. — Fique com isso.

Miguel retirou o cordão que usava sob a camisa. O pingente era um pesado sol, dourado e brilhante, que representava o Deus do qual tanto falavam nos reinos ao sul da Escuridão: o Deus Sol. O careca deixou o cordão na mão de Juan, seu amigo desde que eram pequenos lupinos, e disse:

— Nada melhor que luz para afastar aqueles loucos de você.

— Obrigado, meu amigo. — disse Juan.

Miguel sorriu e deu dois tapinhas no ombro do mais alto. Em seguida, virou-se e afastou-se volta para a casa de Sigmund.

— Juan, me promete que vai ficar bem. — disse a jovem, agora fitando o irmão.

Juan se virou para ela após colocar o cordão. Embora não tivesse certeza de que ficaria bem, admitir aquilo levaria à mesma discussão de mais cedo, e tudo o que ele não queria agora era debater com sua amada irmã mais uma vez. Assim, aproximou-se de Dulce e, após depositar um beijo em sua testa, disse:

— Eu voltarei.

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